segunda-feira, 9 de março de 2009

um intelectual que não tem vergonha de se dizer amoroso!

Trilhar os caminhos que Paulo Freire corajosamente desbravou, com certeza, significa andar por caminhos onde bate bem mais forte o coração. Ele não tinha vergonha de se assumir amoroso, pois fazia de sua gentidade uma ponte de encontro com o outro, encontro este que acontecia através do diálogo. “Paulo será sempre conhecido por sua gentidade amorosa. Como um educador crítico que amou apaixonadamente os homens e mulheres e a esses esteve a serviço dedicando toda a sua vida pela sua proposta de educação dialógica” (FREIRE, 2006 p. 27).
Em uma entrevista quando questionado sobre a maneira que gostaria de ser lembrado, Freire respondeu “Eu gostaria de ser lembrado como um sujeito que amou profundamente o mundo, as pessoas, os bichos, as árvores, as águas, a vida” (FREIRE, 2004 p.329). Segundo Ana Freire, 2006 Paulo Freire lutou toda sua vida para construir um mundo onde amar seja possível. “Essa foi, certamente, a sua virtude maior e o princípio fundante de sua obra” (p. 28).
Ele pisou firme e foi à vida, negando-se ao determinismo dos caminhos já trilhados e previamente conhecidos. Fez de sua vida testemunho, profissão de fé intensa no homem e na sua vocação de ser mais. Seu compromisso histórico não foi com a opressão nem tão pouco com a reprodução. Ele ousou denunciar uma situação de dominação e, além disso, nos ofereceu sua obra e sua vida como um consistente anúncio sobre os caminhos possíveis para a transformação que a sociedade brasileira precisava realizar. E o mais importante, mesmo com tantos percalços, nunca perdeu sua fé intensa no homem; também não se deixou endurecer-se, pelo contrário construiu uma existência profundamente coerente com os seus posicionamentos teóricos “molhados” de sensibilidade.
Olá

Começando um novo semestre de atividades!!!

Mais um texto para nossa reflexão:

POR QUE PAULO FREIRE???


Verônica Salgueiro do Nascimento



Certas canções que ouço
Calam tão fundo dentro de mim

Milton Nascimento


A interrogação que motiva a elaboração desse texto já traz em si uma importante pista para embasar nossa argumentação de resposta. A postura de quem interroga a realidade é incansavelmente defendida por Freire. Posso afirmar ser esta uma pedra fundamental na construção teórica do modelo da Educação Libertadora, ou também conhecida como Educação Problematizadora. Sobre tal proposta Freire, 2005a afirma “nenhuma ordem opressora suportaria que os oprimidos todos passassem a dizer: Por quê?”(p.87). Sendo assim, acredito estar sendo profundamente freireana quando me questiono: Por que Paulo Freire?
Tento, ao compor tal texto, fazê-lo na forma que Freire indicou. Busco romper o silêncio e o isolamento e meu desejo é dialogar com o autor em questão, levando em consideração o contexto sócio-histórico e também meu universo pessoal, o qual entendo ser forjado no entrelaçamento do contexto acima citado. Desejo ainda dialogar com o leitor, abrindo um canal de comunicação para também provocar questionamentos.
O primeiro elemento que abordo para elaboração da resposta para nossa questão inicial diz respeito à importância atribuída por Freire à educação. Freire (2005a) realizou uma severa crítica à educação tradicional, por ele denominada educação bancária. Tal modelo escraviza o homem fazendo com que este desacredite em si mesmo e não se perceba capaz de criar e transformar a realidade na qual se encontra imerso. O papel esperado do aluno é o de reprodução do que lhe é repassado, recebe passivamente o conteúdo como um banco recebe um depósito.
Chama-me particular atenção quando o autor denuncia que este tipo de educação é necrófila, tem o compromisso com a morte, pois mata a criatividade, castra o que o homem tem de mais valioso, sua vocação de ser mais, seu inacabamento, seu potencial de renovação. O ser mais que se busca neste modelo individualista conduz ao ter mais egoísta, forma de ser menos.
É negada a condição de sujeito criador de sua própria história no contexto da intercomunicação e da relação dialógica. O homem percebe a realidade como imutável, pronta e acabada, e passa a desacreditar na possibilidade de transformação desta. O movimento é represado e a morte em vida acontece. Nada novo se apresenta, a esperança e o sonho perdem a sua força.
No entanto, Freire (2005a) não se restringiu ao patamar da denúncia. Ele dedicou-se extenuadamente a tarefa de anúncio, papel importante para aquele que sonha e acredita na utopia como um imperativo existencial. O compromisso passa a ser com a vida, mesmo que esta seja uma vida severina[1], uma vida frágil, mas ao mesmo perseverante, assim como é a trajetória em busca de água sinônimo de vida para o sertanejo.
Assim como Freire, acredito que a vida deve ser o foco da educação, a criatividade precisa se fazer presente para que o homem atue como sujeito e possa romper com a prescrição de comportamentos que lhe serve de prisão e mata a vida. Este movimento não se faz isoladamente, não é problema apenas de um, é uma situação limite a ser superada por atos-limites quando a vida lhe apresenta viva em forma de problema. Pelo compromisso de Freire com a vida é que escolho a parceria deste autor como forte ancoragem para minha leitura problematizadora do mundo.

A existência, porque humana, não pode ser muda, silenciosa, nem tão pouco pode nutrir-se de falsas palavras, mas de palavras verdadeiras, com que os homens transformam o mundo. Existir, humanamente, é pronunciar o mundo, é modificá-lo. O mundo pronunciado, por sua vez, se volta problematizado aos sujeitos pronunciantes, a exigir deles novo pronunciar (FREIRE, 2005a, p.90).
[1] Termo escolhido em alusão ao poema “Morte e Vida Severina” de João Cabral de Melo Neto.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

RESUMO DA TRAJETÓRIA DO GRUPO

GRUPO ESPERANÇAR: TRAJETÓRIA DE VIDA NO CÍRCULO DE CULTURA
Domingos Arthur Feitosa Petrola1
Verônica Salgueiro do Nascimento2
O objetivo deste trabalho é relatar a trajetória do grupo Esperançar. Esse grupo tem como origem o interesse em vivenciar e aprofundar as contribuições sistematizadas pelo autor Paulo Freire. Inicialmente, o grupo se reuniu no segundo semestre de 2005, com a intenção de estudar a obra Pedagogia do Oprimido. O grupo é formado principalmente por educadores e educandos do curso de Psicologia da Universidade de Fortaleza. Contudo, a perspectiva do grupo é construir diálogos interdisciplinares permanecendo aberto para a participação de novos integrantes. Atualmente, o grupo dedica-se à atividade de redefinição de sua identidade, seus objetivos e possibilidades de atuação.
Dos atuais objetivos destacam-se os seguintes: Estudar as obras principais de Paulo Freire a partir de temas geradores definidos pelos participantes do grupo; Fortalecer parcerias com áreas afins da Psicologia na direção de uma prática interdisciplinar fundamentada nos princípios da obra freireana; Subsidiar debates e intervenções pautadas nos conceitos de Paulo Freire; Desenvolver pesquisas e produzir textos científicos para publicação e divulgação do pensamento freireano.
No presente texto, gostaríamos de enfatizar o posicionamento de Freire (2005)3 ao defender a esperança, conceito muito presente na trajetória de vidas dos integrantes e que veio a ser escolhido para nomear o grupo. A construção do conhecimento no espaço universitário a partir do encontro grupal precisa do sentimento de esperança. “Não é, porém, um cruzar de braços e esperar. Movo-me na esperança enquanto luto e, se luto com esperança, espero” (FREIRE, 2005, p. 95).
Outra categoria muito pertinente ao grupo é a do diálogo. Para Freire (2005), os homens se encontram por meio do diálogo. No entanto, não há diálogo se não há um profundo amor ao mundo e aos homens.
De acordo com a concepção da educação libertadora, o seu alvo principal consiste na vocação humana de ser mais. Esta só ocorre no terreno da intercomunicação, não se faz isoladamente. “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo” (FREIRE, 2005, p.78).
Freire (2002)4 entendia que o ato de estudar não é um ato de consumir idéias, mas de criá-las e recriá-las. Só entre sujeitos pode-se superar a relação de opressão marcadamente presente nas práticas da educação bancária para que a educação libertadora possa ser vivenciada.
A educação não representava a única via para a transformação social, porém foi considerada como um dos mais poderosos caminhos para se alcançar um novo mundo, não mais um mudo de submissão, silêncio e miséria; mas um mundo de possibilidades.
Dessa forma, esperançamos que as reflexões construídas ofereçam subsídios para novas idéias e principalmente sirvam de inspiração para a viabilização de novos caminhos. Que estas nos favoreçam na problemática tarefa de ler o mundo proposta por Paulo Freire.
Palavras-Chave: Paulo Freire; Esperança; Círculo de Cultura
1 Aluno do curso de Psicologia da Universidade de Fortaleza (UNIFOR). arthur.petrola@hotmail.com
2 Doutoranda em Educação Brasileira na Universidade Federal do Ceará (UFC/FACED). Professora do curso de Psicologia da Universidade de Fortaleza (UNIFOR). vsalgueiro@unifor.br
3 FREIRE. P. Pedagogia do oprimido. 42ª ed. Rio de Janeiro, 2005.
4 FREIRE, P. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. 10ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

HISTÓRIA DO GRUPO ESPERANÇAR

o grupo é formado por pessoas que se articularam a partir do estudo da obra de Paulo Freire