segunda-feira, 9 de março de 2009

Olá

Começando um novo semestre de atividades!!!

Mais um texto para nossa reflexão:

POR QUE PAULO FREIRE???


Verônica Salgueiro do Nascimento



Certas canções que ouço
Calam tão fundo dentro de mim

Milton Nascimento


A interrogação que motiva a elaboração desse texto já traz em si uma importante pista para embasar nossa argumentação de resposta. A postura de quem interroga a realidade é incansavelmente defendida por Freire. Posso afirmar ser esta uma pedra fundamental na construção teórica do modelo da Educação Libertadora, ou também conhecida como Educação Problematizadora. Sobre tal proposta Freire, 2005a afirma “nenhuma ordem opressora suportaria que os oprimidos todos passassem a dizer: Por quê?”(p.87). Sendo assim, acredito estar sendo profundamente freireana quando me questiono: Por que Paulo Freire?
Tento, ao compor tal texto, fazê-lo na forma que Freire indicou. Busco romper o silêncio e o isolamento e meu desejo é dialogar com o autor em questão, levando em consideração o contexto sócio-histórico e também meu universo pessoal, o qual entendo ser forjado no entrelaçamento do contexto acima citado. Desejo ainda dialogar com o leitor, abrindo um canal de comunicação para também provocar questionamentos.
O primeiro elemento que abordo para elaboração da resposta para nossa questão inicial diz respeito à importância atribuída por Freire à educação. Freire (2005a) realizou uma severa crítica à educação tradicional, por ele denominada educação bancária. Tal modelo escraviza o homem fazendo com que este desacredite em si mesmo e não se perceba capaz de criar e transformar a realidade na qual se encontra imerso. O papel esperado do aluno é o de reprodução do que lhe é repassado, recebe passivamente o conteúdo como um banco recebe um depósito.
Chama-me particular atenção quando o autor denuncia que este tipo de educação é necrófila, tem o compromisso com a morte, pois mata a criatividade, castra o que o homem tem de mais valioso, sua vocação de ser mais, seu inacabamento, seu potencial de renovação. O ser mais que se busca neste modelo individualista conduz ao ter mais egoísta, forma de ser menos.
É negada a condição de sujeito criador de sua própria história no contexto da intercomunicação e da relação dialógica. O homem percebe a realidade como imutável, pronta e acabada, e passa a desacreditar na possibilidade de transformação desta. O movimento é represado e a morte em vida acontece. Nada novo se apresenta, a esperança e o sonho perdem a sua força.
No entanto, Freire (2005a) não se restringiu ao patamar da denúncia. Ele dedicou-se extenuadamente a tarefa de anúncio, papel importante para aquele que sonha e acredita na utopia como um imperativo existencial. O compromisso passa a ser com a vida, mesmo que esta seja uma vida severina[1], uma vida frágil, mas ao mesmo perseverante, assim como é a trajetória em busca de água sinônimo de vida para o sertanejo.
Assim como Freire, acredito que a vida deve ser o foco da educação, a criatividade precisa se fazer presente para que o homem atue como sujeito e possa romper com a prescrição de comportamentos que lhe serve de prisão e mata a vida. Este movimento não se faz isoladamente, não é problema apenas de um, é uma situação limite a ser superada por atos-limites quando a vida lhe apresenta viva em forma de problema. Pelo compromisso de Freire com a vida é que escolho a parceria deste autor como forte ancoragem para minha leitura problematizadora do mundo.

A existência, porque humana, não pode ser muda, silenciosa, nem tão pouco pode nutrir-se de falsas palavras, mas de palavras verdadeiras, com que os homens transformam o mundo. Existir, humanamente, é pronunciar o mundo, é modificá-lo. O mundo pronunciado, por sua vez, se volta problematizado aos sujeitos pronunciantes, a exigir deles novo pronunciar (FREIRE, 2005a, p.90).
[1] Termo escolhido em alusão ao poema “Morte e Vida Severina” de João Cabral de Melo Neto.

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